Ontem mesmo

Senta aqui do meu lado
e me mostra seu mundo.
Fala pra mim o que surge do fundo
No seu tempo, no seu passo.
Desce aqui a ladeira
e acalma o coração de menino
que é tão pequenino
que é sem eira nem beira.
Traz aqui meu pedaço
que ontem mesmo esqueceu
com seu pudor e descaso
dar a mim o que é meu.
E aproveita e lembra
que aquele dia foi meu dia
que eu te trouxe na lembrança
e se assim não o fosse, nada seria.

Ali

Eu quero um sonho que faça
Um sabor que parta
Que tire isto daqui.
Eu quero saber que aquilo
muito mais que isso
te trouxe aqui.
Eu quero descansar, quem dera
e te esperar, pudera
com andor sem fim.
Eu quero sossegar miúdo
fazer tudo mudo
e clarear feliz.
Espero, muito mais que peço
te levar bem perto
pra bem perto ali.

Calo no dedo

Quanta inquietação.
Eu deitei, fechei os olhos mas não consegui dormir.
Nem sei ao certo o que escrever aqui nesta madrugada que se segue.
É o vento da cortina, o lençol de flores, a grafite do tom que eu gosto.
Tudo parece desbotado sob o olhar da insônia.
Lá fora escuto gritos de alegria da vitória do time azul.
Aqui dentro escuto gritos no silêncio que envolve minhas palavras.
Como um nó na garganta.
Ou melhor, como um calo no dedo.
Depois de muito tempo voltei a escrever.
Este é o meu segundo escrito de hoje.
Acho que é sobre isso.
Voltei a escrever.
Ainda com um velho calo no dedo.

Inteira

Vem, vamos ver o que a vida trouxe.
E você segura forte a minha mão que é pra não chorar.
Que é pra saber que apetece o sabor.
Aquecendo o prato feito.
Enfeita o olhar que eu chego... e você olha o meu.
Eu quero inteira.
Complemento não conquista do lado de dentro.
Inteira.
Canto pra você se lembrar.
E deixo assim na brancura... esperando o soar da lembrança.
Você me conta como foi seu dia,
e ainda assim eu sou inteira.
Canto um sonho pra você.
E inteira, te espero.
Espero.

(24/03/09)

Olho de Tornado

Todo dia eu escapo do meu olhar desinteressado.
E nos meus excessos me escondo.
E aquele sentimento só foi sentido porque me permiti cair em sensação.
Você me contou o porquê de tantas coisas e aquela verdade lá na gruta eu larguei.
Depois você falou do meu batom vermelho,
confessou o desejo do beijo,
e reparou no meu cheiro.
Não sei se devo, mas sei que quero.
Olha lá a gente naquela dança proibida,
naquela noite estranha de carnaval.
Construí minha casa no olho do tornado
E é lá que seu mundo é mais confuso que o meu.
Te mostro minhas tristezas encardidas.
Tudo se esquiva, tudo enlouquece.
Gostei e me queimei de um canto a outro.
Porque tudo isso nos atrai... esse espiral de idéias, essa sinestesia sedutora.
Nos nossos limites desformes...
Na casa construída no olho do tornado.